Ao contrário do que se pensa, a Odontologia
Desportiva não é uma especialidade odontológica
ligada à Educação Física,
mas sim uma área de atuação da
própria Odontologia.
Ela
visa oferecer cirurgiões-dentistas com visão
esportiva, a fim de melhorar o rendimento dos atletas,
promovendo a saúde bucal e prevenindo possíveis
lesões decorrentes de atividades esportivas.
Por ter um enfoque multidisciplinar, ela reúne
uma equipe de profissionais das mais diversas especialidades
odontológicas, tais como: periodontia (gengiva
e estruturas de suporte dentário), endodontia
(tratamento de canais), próteses e implantes
(reposição de dentes perdidos), ortodontia/ortopedia
(correção de dentes mal posicionados
e alterações ósseas), cirurgia
e traumatologia buco-maxilo-facial (traumatismos decorrentes
da prática esportiva).
Apesar
de não ser matéria curricular nas faculdades
e de não existirem cursos de formação
específicos, há aulas e palestras como
atividades extra-curriculares, que visam informar
o cirurgião-dentista sobre este novo campo
de atuação, com enfoque preventivo e
curativo.
Embora
a Odontologia Desportiva no Brasil seja ainda muito
jovem, já foi criada a Associação
Brasileira de Odontologia Desportiva (Abrodesp), que
além de dentistas, é composta por médicos,
fonoaudiólogos, nutricionistas e psicólogos.
Além disto, no Conselho Regional de Odontologia
de São Paulo existe uma Comissão de
Odontologia Desportiva, e, no Ginásio do Ibirapuera,
foi formado o 1º Centro de Odontologia Desportiva
do Brasil.
O
atleta, por exigir mais do seu físico em relação
às demais pessoas, necessita estar sempre atento
à sua saúde, e a saúde bucal
não pode ficar fora deste contexto. Constatou-se
que o rendimento de um atleta pode ser reduzido se
ele tiver algum distúrbio na sua saúde
bucal. E ainda, por outro lado, seu rendimento está
intimamente relacionado com a vitória ou a
derrota. Deste modo, visando uma melhoria no desempenho
do atleta, faz-se necessário um exame odontológico
minucioso, a fim de promover o tratamento de eventuais
doenças ou mesmo atuar de forma preventiva.
É
preciso planejar bem o tratamento do atleta, pois
cuidados diferenciados devem ser tomados. Por exemplo:
restaurações metálicas não
são indicadas, por isso devemos ter cautela
na prescrição de medicamentos. A restauração
metálica, por ser muito dura e resistente,
pode levar à fratura de dentes devido ao impacto
sofrido durante a prática esportiva. Desta
forma, recomendamos a restauração em
resina, que no impacto é mais fácil
de ser quebrada do que o dente. Já com os medicamentos,
temos de ter cuidado para não interferirem
no exame anti-dopping.
Alterações
bucais também podem levar à redução
do desempenho do atleta, tais como: má oclusão
(engrenagem entre os dentes), respiração
bucal, perdas dentárias, desordens na ATM (articulação
têmporo-mandibular), problemas nos canais, alterações
gengivais/periodontais, cárie dentária,
raízes residuais, etc. Podem levar também
ao aumento do risco de lesões (nas articulações
dos joelhos, por exemplo) e dificuldade para recuperação
de lesões, como as musculares, bem como diminuição
da capacidade aeróbica, não aproveitamento
do alimento ingerido (comprometimento da mastigação
e conseqüente digestão), alterações
na postura e na visão, dores de cabeça,
zumbidos, estafa e fadiga precoce.
Desta
forma, o tratamento do atleta abrange diversas especialidades
odontológicas, cujo objetivo principal é
promover sua saúde bucal, e claro, reabilita-lo,
o que interfere na estética e auto-estima.
Mas temos uma grande preocupação: prevenir
um risco a que atletas são expostos, que são
os traumas desportivos, visto que são a terceira
maior causa dos traumas faciais. Buscamos prevenir
as fraturas dos ossos da face e dos dentes bem como
lesões de língua, lábios e bochechas.
O traumatismo dental é um problema de saúde
pública, pois pode levar à perda dentária
imediata (no momento do acidente) ou mediata (no decorrer
do tratamento ou anos após, devido à
reabsorção das raízes dentárias).
Mas caso o trauma desportivo ocorra, podemos intervir
corrigindo o dano anatômico e o distúrbio
funcional.
Quando
falamos em prevenção na Odontologia
Desportiva, aí pensamos nos protetores bucais
para prática de esportes. As modalidades de
maior risco são os de contato, ou de impacto,
como: boxe, judô, karatê, jiu-jitsu, luta
greco-romana, sumô, futebol, basquetebol, voleibol,
handebol, mountain bike, motocross, hockey in line,
patins in line, etc. Nestes esportes, as chances do
atleta sofrer contusões orofaciais durante
a carreira variam de 33% a 56% . Podem ocorrer choques,
cabeçadas, cotoveladas, traumatismos crânio-faciais,
fraturas nasais, ferimentos corto-contusos e lacerantes,
e até mesmo quedas acidentais ou agressões
físicas como socos e pontapés.
Agindo
preventivamente, os protetores bucais atuam de duas
maneiras: protegendo os dentes de fraturas ou avulsões
(arrancamentos) e prevenindo lesões nas bochechas,
língua e lábios. Segundo a Academia
Norte-Americana de Odontologia Desportiva, o uso de
protetores bucais na prática esportiva reduz
em até 80% o risco de perda dentária.
Nos Estados Unidos e Europa, usar equipamentos de
segurança é lei em inúmeras competições
esportivas, mas no Brasil o uso de protetores bucais
ainda é restrito a praticantes do boxe.
Existem
três tipos de protetores bucais: os pré-fabricados
(com tamanhos P, M e G), os termoplásticos
(também pré-fabricados,) e os confeccionados
pelo dentista. Os dois primeiros não têm
boa adaptação à arcada dentária,
interferem na fala, na respiração e
na tensão muscular do atleta, que morde, aperta
constantemente para não sair do lugar. O segundo
leva o atleta a riscos de queimaduras na boca, pois
é posto na pessoa após ser tirado de
imersão na água quente para amolecer
e melhor adaptar-se à arcada dentária,
é o famoso “ferve e morde”. O terceiro
tipo é definitivamente o melhor para o desempenho
do atleta, pois é confeccionado após
moldagem da arcada dentária, e é personalizado,
pois não atrapalha na respiração
e pode-se ingerir líquidos sem retira-lo da
boca. Os protetores duram em média 1 ano, devem
ser lavados com água corrente após o
uso e armazenados em estojos próprios. Devem
ser trocados nas crianças e adolescentes com
certa regularidade, devido ao crescimento ósseo,
ou sempre que o atleta apresentar alterações
drásticas de peso.
A atuação da Odontologia Desportiva no Brasil só tende a crescer, a exemplo do que já acontece nos Estados Unidos e Europa. A tendência é que academias, clubes, federações esportivas e escolas passem a divulgar e a solicitar a necessidade de meios de proteção para a prática de esportes de uma maneira geral, quer seja dos seus associados, atletas ou alunos. Além disso, encaminhar o atleta/aluno/associado para um exame odontológico, a exemplo do que ocorre em relação à avaliação física. Enfim, prevenir é o melhor caminho, pois é mais barato saudável. Portanto, vamos nos cuidar.
Referências
Dra Ana Paula Falcão de Moura - Cirurgiã Dentista Pós Graduada pela Universidade de São Paulo.
Dra Ana Paula Falcão de Moura - Cirurgiã Dentista Pós Graduada pela Universidade de São Paulo.
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